Lamento das Cigarras - Cap. 2

19:00




Capítulo 02 - Encontro Inexplicável


O Colégio Alvorada ficava no centro da pequena cidade. Como já passava das sete horas da manhã era bem provável que as aulas já tivessem iniciado.

Robin parou o carro em frente ao portão, que estava aberto. Em seguida, entrou pela porta da diretoria onde estava a recepção.

Robin: Bom dia... Meu nome é Robin Santana, eu sou detetive. Posso falar com o diretor?

A atendente ergueu os olhos para Robin.

Atendente: É só seguir o corredor. É a terceira porta da esquerda.

A atendente apontou com sua caneta para o corredor que se estendia em frente à recepção.

Robin: Obrigado! Com sua licença...

Robin se dirigiu para o corredor. As portas tinham grandes números azuis pintados. Até que a terceira porta do lado esquerdo tinha um cartaz que dizia "Diretoria". Robin a abriu.

Robin: Diretor...?

O diretor, um homem aparentemente de meia-idade com cabelos brancos e óculos olhou para Robin, enquanto colocava alguns papéis no canto da mesa. Ele parecia alguém de respeito.

Diretor: Pois não, em que posso ajudá-lo, senhor...?
Robin: Robin Santana, detetive. Posso entrar?
Diretor: Claro, fique à vontade.

Robin entrou e sentou-se na cadeira em frente ao diretor. Havia uma pequena placa em cima da mesa com o nome "Bernardo Almeida".

Robin: Vocês tem aqui uma aluna chamada Elizabeth Fernandes?
Bernardo: Sim, eu a conheço. Já a vi algumas vezes nos corredores e no pátio. Ela está no segundo colegial, por quê?

Robin cruzou as mãos.

Robin: Ela... Foi encontrada morta nessa madrugada.

O diretor levou um susto. Era como se a notícia tivesse o atingido como um soco.

Bernardo: Mas... Mas como? Eu a vi ontem mesmo!
Robin: Um cidadão a encontrou morta no túnel que leva à saída da cidade. Não tinha marcas de violência pelo corpo, ou qualquer coisa. Ela simplesmente estava caída próxima às paredes.

O diretor balançava a cabeça sem acreditar.

Robin: O que o senhor pode me dizer sobre ela? Como ela se comportava nos últimos dias?

Finalmente, o diretor respirou fundo e olhou fixamente para Robin.

Bernardo: Infelizmente eu tive poucas chances de falar com ela. No entanto, acho que o senhor teria mais informações se conversasse com o professor Marcos, do segundo ano, ou com alguns alunos que eram próximos dela. No entanto, eles estão na classe agora. Mas eu vou me certificar de dar pessoalmente a notícia.
Robin: Eu vou precisar do endereço dos pais dela também.

O diretor abriu a gaveta de sua mesa e tirou algumas fichas.

Bernardo: Elizabeth Fernandes... É essa aqui. Eu vou anotar pra você.

Após escrever rapidamente o endereço em um pedaço de papel, o diretor o entregou para Robin.

Bernardo: A aula acaba ao meio-dia, eu vou pedir para o Marcos te esperar.
Robin: Obrigado!

Robin se despediu do diretor e saiu da escola. Ao entrar em seu carro, pegou o celular que estava no bolso de sua calça e fez uma ligação.

Robin: Alô, Samuel?
Samuel: Olá, Robin! Como vai?
Robin: Tudo certo, eu consegui o endereço dos pais da garota.
Samuel: Perfeito! Luke e eu faremos uma visita e depois te contamos o que descobrimos.
Robin: Ok, eu vou te passar o endereço... Anota aí...

Robin passou o endereço dos pais de Elizabeth para Samuel. Uma conversa com eles na certa traria informações importantes. Terminada a conversa, Robin  voltou para sua casa.


As horas se passaram, até que o carro de Robin novamente parava em frente à escola. Ao olhar em seu relógio de pulso, notou que era meio-dia e cinco. Os alunos saíam aos montes pelos portões da escola, no entanto havia um homem de cabelo loiro parado em frente ao portão. Havia um crachá em seu peito que dizia "Marcos - Professor".

Robin sabia que ele estava o esperando. Então rapidamente, desceu do carro e foi até ele.

Robin: O senhor é o professor do segundo ano, certo?

Marcos se aproximou de Robin e o cumprimentou.

Marcos: Sim... Eu sou Marcos Freitas, professor da falecida Elizabeth.

Marcos parecia demonstrar tristeza em seu olhar.

Robin: Robin Santana, detetive. Eu sinto muito por tudo que aconteceu, mas... Se puder me ajudar, eu agradeço muito.
Marcos: Na verdade, eu... Como eu posso dizer...? Isso pegou todo mundo de surpresa. Ela estava na classe ontem, como em qualquer dia normal, e agora... Eu nem sei o que dizer, desculpe.

As palavras saíam engasgadas da boca de Marcos. Robin percebeu que talvez aquele não era o melhor momento para falar.

Robin: Entendo... Só uma pergunta, como ela era? Sua personalidade?
Marcos: Bem, ela não tinha muitos amigos... Passava a maior parte do tempo sozinha. Acho que só duas garotas da classe tinham costume de falar com ela.
Robin: Uma garota solitária...?
Marcos: Sim, acho que é a melhor palavra para descrevê-la. No entanto suas notas eram sempre algumas das melhores da sala. Ela gostava muito de estudar.

Uma garota que passava a maior parte do tempo sozinha e gostava muito de estudar... Robin começava a traçar o perfil de Elizabeth em sua cabeça.

Marcos: Detetive, eu... Eu tenho um filho que necessita de cuidados especiais e não posso me atrasar muito... Se importa se falarmos em outra hora?
Robin: Ah sim, claro, Professor. Obrigado pelas informações!

Rapidamente, o professor se despediu de Robin e caminhou até um carro preto do outro lado da rua enquanto Robin observava.

????: Detetive!

Robin levou um susto. Ao se virar, havia não uma, mas três garotas ao seu lado. Duas delas pareciam ter a mesma idade de Elizabeth. A primeira tinha cabelos castanhos e um crachá em seu peito que dizia "Alice Lombardi". A segunda tinha cabelos loiros em um tom claro, quase branco. Seu crachá dizia "Jessica Sampaio". A última garota se destacava por ser bem menor, provavelmente era de uma série mais baixa. Tinha cabelos pretos e um crachá que dizia "Maria Soares".




Robin: Ãh...? O quê? Desde quando vocês estão aqui?

As três deram um leve sorriso.

Alice: Acabamos de chegar.
Jessica: Mas estávamos observando a conversa com o professor.

Robin não entendia aquilo. De onde aquelas meninas tinham saído afinal?

Robin: Bem... O que vocês querem comigo?

As três se entreolharam.

Alice: Nós... Éramos amigas da Elizabeth.

Agora Robin se interessou.

Robin: Sério?
Maria: Jessica e Alice estudavam com ela. Mas nós quatro nos reuníamos todos os dias depois da aula.
Robin: Interessante. Então vocês podem me ajudar com algumas informações?

Novamente as três se olharam por alguns segundos. Parece que havia algo combinado entre elas.

Alice: Não de graça.

Agora Robin definitivamente estranhou ainda mais aquele trio. O que elas poderiam querer em troca de ajudá-lo? Além do mais, elas não haviam acabado de perder uma amiga? Aquelas três eram loucas?

Robin: Eu... Não entendi.
Alice: Elizabeth era líder de uma agência de detetives secreta. E você é um detetive, não é?
Robin: Ei, ei, ei... Que história é essa de "Agência de Detetives"? Quantos anos vocês tem?
Alice: Jessica e eu temos dezesseis anos, assim como Elizabeth. Maria aqui tem doze. Ela ainda está na sexta série, mas somos grandes amigas.

Maria sorriu.

Robin: Vocês não podem estar falando sério.
Jessica: Bem... Digamos que nós temos um clube. Usamos... Ou melhor, usávamos, para investigar casos policiais que víamos na TV, ou rumores que se espalhavam pelo bairro e pela escola.

Robin entendeu melhor.

Robin: Ah, sim... Vocês brincavam de detetive.

A conclusão de Robin fez as três o olharem com certa raiva. Parece que o termo "brincar" não caiu muito bem.

Robin: Enfim, o que querem de mim?
Alice: É simples... Você se une ao nosso clube, e nós passavamos as informações.

Aquilo não fazia o menor sentido.

Robin: Nem pensar! Eu sou um detetive sério! Trinta e um anos de idade e quase dez de carreira! Não tenho tempo pra... Bem, me dedicar a esse clube, ou seja lá o que você fazem!

Agora ele parece ter magoado as garotas. Maria baixou a cabeça.

Alice: Por favor, Robin... Nós podemos te ajudar!
Jessica: Elizabeth era a nossa líder, e agora nós estamos perdidas... E a morte dela... Nós também queremos saber o que aconteceu! Por favor, vem com a gente.
Robin: Pelo amor de Deus... Eu tenho trabalho a fazer.
Maria: Mas nós podemos te ajudar com seu trabalho! E você ajuda a gente!

As palavras da pequena Maria tinham bastante força. Era como se não viessem de uma criança, e sim de um adulto.

Robin: ...
Alice: Então?
Robin: ...
Jessica: Nós usamos a biblioteca desativada da escola como sede.
Robin: ...
Maria: Por favor!
Robin: ...Tá bom.

As três sorriram e comemoraram.

Robin: Mas só até vocês me contarem o que sabem sobre ela. Combinado?
Alice/Jessica/Maria: Combinado!

Felizes, as três guiaram Robin. De certa forma, ele achava perda de tempo "brincar" de detetive com três garotas que ele mal acabou de conhecer. Mesmo assim, parece que elas gostaram muito do novo "parceiro", e de certa forma, ele sentia que estava ajudando-as a superar uma perda.

Mas o que elas sabiam a respeito de Elizabeth...?

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