Capítulo 04 - A Primeira Pista
Em seguida, pegou seu celular que ainda estava em seu bolso, e fez uma ligação.
Robin: Alô, Samuel? Você conseguiu falar com os pais de Elizabeth?
Samuel: Ah, sim, Robin... Desculpe não ter ligado antes. Nós tivemos um pouco de problema para falar com eles.
Robin sentou-se no sofá.
Robin: Problemas...?
Samuel: Sim... A notícia foi como um choque para eles. Tivemos que esperar que se acalmassem para começarmos o interrogatório. Nós os levamos para a delegacia.
Robin: Eu entendo... Então eles realmente não sabiam que ela estava morta.
Samuel: É o que parece. Mas primeiro eu quero saber o que você descobriu.
Robin notou que suas unhas ainda estavam pintadas.
Robin: Bem, eu... Eu falei com o diretor e com o professor da Elizabeth, e eles me contaram um pouco sobre a personalidade dela.
Samuel: Vamos ver se bate com as informações que eu tenho.
Robin: Elizabeth aparentemente era uma garota bem reservada. Ela não tinha muitos amigos na escola e quase sempre ficava sozinha. Porém era muito boa aluna, tendo algumas das melhores notas da classe.
Samuel: Exatamente, foi o mesmo que seus pais me disseram.
A essa altura, era seguro dizer que Robin já tinha o perfil de Elizabeth. Tanto os membros da escola como seus pais confirmaram a sua personalidade.
Robin: Eu também conheci três garotas que pelo que parece eram suas únicas amigas na escola. Jessica e Alice de dezesseis anos, e Maria, de doze anos.
Nesse instante, Samuel ficou em silêncio.
Robin: ...Samuel? Você está me ouvindo?
Samuel: Ah sim, estou, Robin! Continue.
Robin: Elas tinham um grupo de detetives, onde passavam o tempo se divertindo tentando solucionar mistérios que viam na TV ou rumores da escola.
Samuel: E... Você falou com elas?
Samuel parecia estranho ao falar sobre as garotas. Será que ele sabia algo a respeito?
Robin: Sim, na verdade eu conversei bastante, mas elas não quiseram falar muito sobre Elizabeth. Acho que foi um choque para elas.
Samuel novamente hesitou ao falar.
Samuel: Robin... Eu vou te contar uma coisa, mas por favor, tome muito cuidado com suas atitudes, tudo bem?
Robin estranhou aquilo.
Robin: Tudo bem...
Samuel: Na conversa que eu tive com os pais de Elizabeth, eu descobri porque eles não deram falta dela durante a madrugada.
Robin: Sério?! E então?
Samuel: Bem... Aparentemente, eles disseram que Elizabeth pretendia passar aquela noite na casa de amigas.
Robin levou um susto. Então, na noite em que Elizabeth foi encontrada morta... Ela ia passar a noite com amigas? Eles estavam se referindo a Alice, Jessica e Maria...?
Mas isso não era possível... Se ela foi dormir na casa de alguma delas, ou talvez passar a noite no clube de detetives... Como ela foi encontrada morta no túnel?
O que estava havendo? Robin estava ao mesmo tempo assustado e confuso.
Samuel: ...Robin?
Robin: Mas... Elas não me contaram sobre isso...
Samuel: Entendi... Seja como for, por favor, tome cuidado com quem você conversa, Robin... Eu vou ter que desligar, outra hora a gente conversa.
Robin: Tudo bem... Até mais...
Robin desligou.
Será possível que as garotas estão escondendo algo de Robin? Aquelas três meninas que se divertiam no clube eram algo mais do que ele pensava?
Robin ficou no sofá refletindo por alguns minutos. Ele pensou sobre todos os momentos que passou com elas, enquanto raciocinava se valia a pena colocá-las na lista de suspeitos.
De repente, alguém bateu em sua porta.
Robin: O quê? Quem será...?
Robin se levantou, e assim que abriu a porta, teve uma grande surpresa.
Robin: ...Jessica?!
Jessica: Sim, eu mesma!
Robin: Espera... Como você descobriu onde eu moro?
Jessica riu.
Jessica: Você mesmo disse, Robin. Não lembra?
Robin: Na verdade não...
Jessica: Enquanto eu estava embelezando suas unhas, Alice perguntou onde você vivia. E você disse que era nessa casa, inclusive citou o fato de que mora sozinho.
Robin olhou novamente para suas mãos.
Robin: ...Tá, agora eu lembro. Mas o que você faz aqui...?
Jessica: Bem... Pra falar a verdade, eu vi o que aconteceu quando Alice e você saíram do clube.
Robin se lembrou. Alice estava em prantos pela morte de Elizabeth, coisa que não havia demonstrado durante a reunião.
Robin: Ah, aquilo... Sim, eu prometi pra ela que ia descobrir se houve algum culpado pela morte da Elizabeth.
Jessica baixou a cabeça.
Jessica: Enfim, eu... Eu também vim te convidar para uma reunião especial essa noite.
Robin se espantou.
Robin: Reunião especial?
Jessica: Sim. Uma vez por semana temos uma noite especial em nosso clube, onde nos divertimos bastante. Vai ser legal se você for.
Robin se lembrou do que Samuel disse sobre as garotas. Talvez essa era a hora de tirar sua dúvida.
Robin: Bem... Jessica, por acaso você ou alguma das garotas estiveram com Elizabeth na noite de ontem?
Jessica: Não.
A resposta foi curta e grossa. E por algum motivo, trouxe um clima pesado ao ambiente.
Jessica: Enfim, Robin, nós estaremos esperando por você. Por favor, não falte. Oito horas da noite, você sabe onde!
Sem falar mais nada, Jessica se foi. Robin a observou por alguns instantes enquanto se perguntava o que estava acontecendo.
Robin parou o carro em frente à escola. Já era noite. No pátio da escola havia uma enorme árvore, aparentemente bem velha. De repente, uma cigarra começou a cantar.
Robin desceu do carro e caminhou até a porta da antiga biblioteca, a base do grupo de detetives. Ao abrir a porta, encontrou Jessica e Alice, já esperando por ele.
Jessica: Está um pouco atrasado, detetive... Hehe.
Robin: Eu... Tive um pequeno problema, mas já está tudo resolvido.
Alice: Jessica, por falar em atrasos... Onde está Maria?
Jessica: Você não avisou à ela que o encontro era hoje?
Alice: Eu pensei que você tivesse avisado...
Pelo jeito, organização não era o forte delas...
Jessica: Droga, Alice... Bem, eu vou buscá-la. Por sorte a casa dela não é muito longe. Esperem por mim.
Jessica se levantou e saiu da biblioteca, deixando Alice e Robin sozinhos.
Robin: Então... O que vamos fazer hoje?
Alice: Vamos assistir à um filme. Como fazemos toda semana.
Robin encarava Alice com um estranho olhar.
Alice: Robin... Está tudo bem...?
Robin: Pode me explicar quanto tempo vai levar para vocês falarem tudo que sabem sobre Elizabeth?
Alice estranhou a fala repentina de Robin.
Alice: Eu... Pensei que já falamos sobre isso. Vamos trabalhar em equipe, não vamos?
Robin: Alice... Acho que você sabe muito bem o que eu quero dizer...
Um clima sombrio tomou conta do local.
Alice: Eu... Eu não entendo...
Robin: Uma das mais importantes regras de um detetive é que até que se prove o contrário, todos podem ser suspeitos.
Alice se assustou.
Alice: Você... Você está desconfiando de mim?
Robin: Não só de você, mas eu acho que todas desse grupo estão me escondendo alguma coisa.
Alice se levantou da cadeira.
Alice: Isso... Isso é loucura... O que você quer dizer com isso?! Que nós matamos Elizabeth?!
Robin percebeu que Alice estava na ofensiva, e se levantou também.
Robin: Então você consegue me provar o contrário? Que não teve nada a ver com a morte dela?
Alice: ...
Alice começou a rir.
Alice: Hehehe...
Robin: O quê? O que é tão engraçado?!
Alice lentamente se aproximou do balcão da biblioteca.
Alice: Robin... Como você é idiota... Acha mesmo que vai ser tão fácil assim me incriminar?
Robin: ...?
Alice: Elizabeth era minha amiga... Isso é um fato... Mas sabe o que mais me interessava nela...?
Robin lentamente colocou sua mão no bolso. Ele estava preparado para puxar a faca a qualquer momento... Era só questão de tempo...
Alice: Não é óbvio? A posse desse clube... Elizabeth era nojenta... Ela olhava para nós com desprezo porque éramos... Inferiores.
O som da cigarra do lado de fora começou a ficar mais alto.
Robin: Então você fez isso?
Alice: Exato... Eu matei Elizabeth!!
A cigarra começou a cantar aceleradamente. Robin puxou a faca de seu bolso.
Robin: Eu não vou deixar você sair impune disso!
Alice: Olha só... Você veio pronto... Grande detetive...
Alice colocou a mão na parte de trás do balcão. De uma das prateleiras, ela tirou outra faca.
Alice: Irônico, né? Você veio armado para me enfrentar... E eu já estou um passo à frente...
Robin: ...
Alice: Robin, deixa eu te explicar uma coisa... Elizabeth fundou esse clube no começo do ano, e me convidou para participar. Desde o primeiro dia, eu me sinto inferior perto dela... Sinto que ela está me humilhando, me fazendo de idiota... Você sabe o que é passar tanto tempo sendo rebaixado dessa forma?
Robin riu.
Robin: Hahahaha!
Alice: Do que está rindo?
Robin: Você está falando com a pessoa errada, Alice... Lembra que eu lhe disse que minha esposa faleceu de uma doença quatro anos atrás?
Alice: Sim, eu me lembro...
Robin baixou a cabeça e sorriu.
Robin: Desde que ela ficou doente, eu passei meses e meses assistindo o corpo dela definhar aos poucos. Eu não podia fazer nada, a não ser observar a saúde dela cada vez mais fraca. E quando ela morreu, a única coisa que me restou foi essa carcaça. Eu nunca mais consegui me aproximar de outra mulher. Eu fiquei bloqueado, trabalhando apenas para garantir a minha sobrevivência. Agora eu te pergunto... Você sabe o que é passar quase cinco anos de sua vida se sentindo um inútil?!
A verdade é que a carga de Robin era muito superior à de Alice. Se essas cargas davam poder destrutivo para alguém, Robin ia vencer sem sombras de dúvida.
Alice: Hehe... Então que tal tirarmos a conclusão agora?
Alice se preparou para atacar Robin com a faca.
Robin: Venha... Vamos ver o que acontece...
Alice gritou e correu na direção de Robin. Robin se preparou para quando ela chegasse.
Alice: Morra!!
...
......
...........
Tarde demais... Quando Alice esticou seu braço para atacar Robin, ela sentiu a faca lhe perfurando a barriga. E a faca entrou bem fundo. No momento em que ela perdia suas forças, Robin puxou o cabo da faca que era a única coisa que não tinha entrado no corpo de Alice.
Alice caiu de frente para o chão. Ela ainda estava viva, mas apenas observava sua visão lhe falhando aos poucos. Robin soltou a faca de sua mão. A mesma caiu no chão fazendo um som metálico.
Robin: Ah... Haha... Hahahaha.... Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!
Robin ria em voz alta. Ele tinha finalmente conseguido! Sua missão estava completa! Alice estava aos poucos morrendo em sua frente.
Enquanto fazia força para respirar, Alice tossiu. Um pouco de sangue saiu de sua boca.
Robin colocou as mãos na cabeça e olhou para o teto.
Robin: Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!! Eu consegui!! Não sou mais inútil!! Eu completei minha missão!!
O sangue que escorria de Alice passava pelas frestas no chão, formando quase que um caminho em direção à parede.
Robin se ajoelhou em frente à Alice.
Robin: Ainda está viva? Vamos lá! Eu quero ver o momento exato de sua morte!
Alice: ...
Robin: Como se sente? Talvez agora você sabe o que Elizabeth passou em seus últimos momentos?
Alice: ...
Robin: Ah, espera... Acho que não... Elizabeth morreu sem ferimentos... Afinal, como você à matou?
Alice lentamente fechava os olhos.
Robin: Não... Espera! Eu ainda quero saber...
Já era tarde demais. Alice respirou pela última vez antes de fechar os olhos para sempre.
Robin: Bem... Acho que esse mistério vai ter que ficar pra mais tarde.
Robin observou a faca que estava no chão. Em seguida se aproximou dela e a pegou. O sangue ainda a manchava.
Robin: Isso está só começando...
Do lado de fora da biblioteca, a cigarra havia parado de cantar...
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