Lamento das Cigarras - Cap. 3

18:30


Capítulo 03 - Alegria Trivial


A antiga biblioteca da escola ficava em um pequeno prédio bem ao seu lado. Agora foi desativado, já que a nova, e maior biblioteca estava funcionando em outro lugar.

Alice abriu a porta de entrada. O local ainda possuía uma grande mesa de madeira com várias cadeiras ao redor, e algumas prateleiras, porém sem livros.

Robin: Então aqui é a "base secreta" de vocês?
Maria: Exatamente!
Alice: Por favor, entre...

Todos entraram. Jessica e Maria sentaram-se em um dos lados da mesa. Alice caminhou para o outro lado e sentou-se, fazendo um gesto para que Robin se sentasse ao lado de Jessica. Sendo assim, os três ficaram de frente para Alice.

Alice: Muito bem, detetives... Hoje é um dia... Como podemos dizer... Fatídico. Perdemos nossa grande companheira Elizabeth, que tanto nos incentivou para continuarmos no ramo de resolver mistérios e expôr verdades ao mundo. Elizabeth tinha uma sede de conhecimento bem incomum para garotas de sua idade. Ela queria descobrir todo o mundo, e revelar segredos ocultos à sete chaves!

Robin, Jessica e Maria ouviam atentamente.

Alice: No entanto, apesar da tristeza... Nossa vida continua. E agora temos um novo ajudante... Robin, quer se apresentar?

Todas aplaudiram, deixando Robin confuso.

Robin: Bem, eu...

Jessica o empurrou com o ombro.

Jessica: Levante-se!

Robin se levantou.

Robin: Eu sou... Robin Santana, tenho trinta e um anos, e trabalho como detetive... Eu não sou muito bom com apresentações, então... Alguém quer perguntar alguma coisa?
Alice: Quando você começou sua carreira?
Jessica: Quantos casos você já solucionou?
Maria: Você trabalha sozinho?

Robin se atrapalhou.

Robin: Esperem, esperem!! Uma de cada vez... Bem, eu comecei minha carreira aos vinte e dois anos, quando me interessei em solucionar mistérios, e passei a buscar esse ramo. Eu não sei ao certo quantos casos já solucionei, mas procuro focar no quão complexos eles são... Vocês sabem, alguns casos podem ser quebrados com apenas uma conversa com alguém, enquanto outros podem levar meses de investigação.

A resposta fez as três ficarem boquiabertas.

Robin: E não, eu não trabalho sozinho... Eu tenho um parceiro na polícia, o Samuel. Ele sempre entra em contato comigo quando precisam de minha ajuda.
Jessica: Uau, a polícia! Você parece importante.

Robin riu.

Robin: Nem tanto. Na verdade, na maior parte das vezes eles fazem o trabalho mais pesado.
Maria: Você é casado? Tem filhos?
Robin: Não... Eu era casado até quatro anos atrás, mas minha mulher ficou muito doente e teve que ir morar com Deus.

Todas baixaram a cabeça.

Maria: Sinto muito.
Robin: Sem problemas.

Alguns segundos depois, Jessica quebrou o silêncio.

Jessica: Alice, posso fazer o ritual de entrada com ele?
Alice: Claro, fique à vontade!

Robin se assustou.

Robin: Espera... O quê?!
Jessica: O ritual de entrada! Todos que se únem ao clube fazem isso. Nós não temos mais nossa líder, mas a tradição tem que ser mantida.
Robin: Achei que queriam a mim como líder...?
Jessica: Nada disso. Nós acabamos de te conhecer.
Robin: ...Hum, entendo... Vocês me querem por aqui, mas ainda não confiam exatamente em mim...?

Jessica se levantou da cadeira.

Jessica: Enfim! Robin Santana, mais novo membro do Clube de Detetives... Está pronto para me encarar em um desafio?
Robin: Desafio?


Robin: Pensei que íamos lutar ou algo do tipo...

Havia um baralho na frente de Robin. Jessica estava sentada de frente para ele.

Jessica: Todos que entram no clube desafiam um dos membros para um duelo em qualquer jogo que seja. Eu escolhi algo que envolve sorte e estratégia... Nós vamos jogar Vinte e Um!

Robin suspirou.

Robin: Tá, tanto faz... Se você quer assim...

Jessica riu.

Jessica: No entanto... Uma das regras diz que o perdedor precisa pagar uma punição.

Robin se assustou.

Robin: Punição?!
Jessica: Exato... Se eu perder, você pode fazer o que quiser comigo... Agora, se você perder... Eu vou pintar suas unhas!

Robin gelou.

Robin: O quê?! Mas não vai mesmo!!

Alice e Maria que estavam atrás de Robin olharam para Jessica.

Alice: Jessica... Temos mesmo que fazer isso?
Jessica: Você se lembra, Alice... Elizabeth fazia isso com a gente.
Alice: Eu sei, mas ele é homem...
Maria: Hehe...

Robin pensou um pouco.

Robin: Tá, vamos logo antes que eu me arrependa de ter ouvido vocês pela primeira vez!

Jessica bateu as mãos.

Jessica: Legal... Eu começo.

Jessica puxou a primeira carta. Era um 3.

Jessica: Começo lento... Vamos lá...

Jessica pegou outra carta do baralho. Era um 6. Em seguida já pegou a próxima. Era um 4. 3+6+4=13

Robin: E então...?
Jessica: Eu não gosto de agir como covarde... Vamos mais uma.

Jessica puxou outra carta. Veio um 5. 13+5=18.

Jessica: Eu paro. Sua vez.

Robin pegou a primeira carta. Veio um K, que equivale a 10.

Robin: Olha só... Mais uma e você se dava mal.
Jessica: Parece que o destino está sorrindo para mim.

Robin puxou a segunda carta. Veio um 3. 10+3=13.

Robin: Perfeito! Eu tenho grande chance de ganhar na próxima! Venha para mim...

Robin puxou mais uma carta. E o número que veio para ele foi... 9! 13+9=22. Ele estourou o limite!

Robin: O quê?!

Jessica bateu palmas enquanto ria. Pelo jeito ela sabia ganhar...

Jessica: Hahaha!! Parece que você perdeu, Robin!

Robin olhava sem acreditar. Quais eram as chances de ele estourar com um 13?

Robin: ...

Alice passou a mão na cabeça de Robin.

Alice: Não se preocupe, Robin... Todas nós perdemos para a Elizabeth quando nos juntamos ao clube!
Maria: Ela pintou as minhas unhas também.

Mas a questão não era aquela... Todas elas eram garotas. Robin era um homem adulto que em poucos minutos andaria pela cidade com as unhas coloridas.

Robin: Eu... Eu já me arrependi de estar aqui...

Jessica estalou os dedos.

Jessica: Maria, pega o esmalte que está na gaveta atrás do balcão?

Maria acenou com a cabeça.

Maria: De que cor?
Jessica: O mais rosa que tiver.
Robin: Nããããooooo!!




Alguns minutos depois, Alice e Robin saíram da biblioteca e caminhavam de volta para a escola. Robin estava com as duas mãos enfiadas à fundo nos bolsos de sua calça.

Robin: Então... A Elizabeth era a líder desse grupo, certo?
Alice: Sim... Até ontem.
Robin: Como ela agia com vocês? O diretor disse que ela era uma garota bastante reservada.

Alice baixou a cabeça.

Alice: Sim, ela era... Mas com a gente era diferente. Ela sempre falava tudo que lhe vinha à cabeça.
Robin: Você notou algo estranho nela ontem?
Alice: Não... Às vezes... Eu ainda não consigo acreditar que ela se foi para sempre.

Naquele instante, Robin notou que Alice estava soluçando. Ao mesmo tempo, percebeu que ela havia parado de andar.

Robin: Alice... Você...

Em lágrimas, Alice correu até Robin e o abraçou com força.

Alice: Robin... Por favor... Nos ajude a descobrir o que aconteceu com a nossa amiga!!

Robin engoliu em seco. Ele não sabia o que falar.

Alice: Isso não foi um acidente... Eu sinto que não foi... Não pode ser...

Alice chorou em voz alta. Robin suspirou enquanto pensava consigo mesmo o que deveria ser feito para que a morte de Elizabeth viesse à tona. Em seguida, tirou as mãos dos bolsos sem se importar com o esmalte e abraçou Alice de volta.

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